sexta-feira, 31 de maio de 2013

Malah

Malah

(Homenagem de Juvenal Ávila de Oliveira)

Data: 28/05/2013
Após meses em Campo Grande-MS, encontrava-me de retorno temporário em Ladário e no exato instante em que revia e redirecionava para uma outra estante os antigos discos de vinil que colecionei, bem como recortes de matérias musicais com enfoque para os músicos e compositores de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, entre outros, fui notificado por telefone, pelo amigo comum Ahmad Schabib, do retorno do mestre Malah à pátria espiritual.
Não tive como impedir que as lágrimas ditassem o que o coração vivenciava. Elas traziam lembranças pretéritas que por certo ajudaram a sedimentar e incorporar a minha personalidade.
Fizeram-me lembrar os ouvintes comuns que éramos, Malah e eu, do mestre da radiofonia Hélio Ribeiro, que abria seu programa pela Rádio Bandeirantes ao meio-dia, cuja temática diária consistia em fazer a leitura de trechos extraídos das obras de Filosofia, Psicologia, Antropologia, achados espiritualistas, temas de autoajuda e traduções das letras cujas melodias eram a sensação do momento no Brasil e Mundo.
O receptor dos genitores do Malah, por dispor de um conjunto de válvulas mais potentes, permitia com mais facilidade a audição e a sintonia do programa cujo nome era "O Poder da Mensagem", levando-me algumas vezes a literalmente fazer uma viagem entre a rua Albuquerque, onde eu morava, até o bairro da Cervejaria, onde o Malah residia.
Inspirado pelo Hélio Ribeiro, busquei aos 14 anos a radiofonia, tendo como membros da banca examinadora de estúdio, personagens como Onofre Bueno (O Papa do Rádio), Acyl Barbosa, Irineu Seizer, entre outros, detentores de excelentes vozes. E mais uma vez o mestre Malah lá se encontrava, posto que algumas letras de música chamavam-me a atenção para o desejo de levá-las aos ouvintes com tradução, e então valia-se de seu autodidatismo Augusto Alexandrino (Malah) para transpô-las para o papel e, com dicionário na mão, buscar encaixar sentido às traduções.
Juntos, conhecemos a universalidade musical de Tom Jobim nas interpretações de Frank Sinatra e nos tornamos fãs, via vinis, a exemplo de JOBIM , de Sergio Mendes, Flora Purim etc.
Anos depois, cursando o segundo grau (Schabib como colega de sala), tornei seu fã como professor, posto que, de maneira prática, colocando o giz entre os dedos transcrevia para o quadro de maneira prática o conteúdo, levando a mim e demais colegas a entender os caminhos da temida geometria.
Por certo, descrever atuação de Malah levaria páginas e páginas. Por certo, também a sua partida a muitos sensibilizou e estas lagrimas jorradas dos amigos transformaram em carinho a permitir que os mensageiros de Jesus o tenham recebido como filho.
Um anjo boêmio me contou que o instante do retorno de Malah ao mundo espiritual, os arco-íris mudaram de cores, apresentando-se aquelas que eram de sua preferência e vaga-lumes em revoadas traziam na noite estas matizes.
Por certo, após sua recuperação, Malah estará ensinando os futuros anjos como repassar para as telas as estampas do cotidiano e suas lágrimas de saudade acenderam luzes de amor em nossos corações, motivando-nos a exercitar a amizade, a cidadania e o modelo de ótimos filhos.
Abraços, Malah. Que as saudades que agora sentimos de ti sejam levadas, pelas asas da emoção, até seu coração.
Por: Juvenal Ávila de Oliveira

domingo, 26 de maio de 2013

PEGA ESSA, MALAH!

PEGA ESSA MALAH!
			(Edson Moraes)
     Em 1972-73 o distribuidor de bebidas Kaskol, Reinaldo Silva, de saudosa memória, montou dois times de futebol de salão. Aliás, dois timaços, o A (Kaskol) e o B (Katira). Ele recrutou os melhores jogadores de Corumbá e Ladário para formar esses dois times. Entre outros: Luiz Mário e Edinho Rachid (imarcáveis), Chanica (Jonas de Lima), Pedro Paulo, Onílson, Jorge Brito, Dedorra e quatro excelentes goleiros, entre os quais o Malah (Augusto Alexandrino), o Pedrinho Peteca e o Ripiau.
     Enfrentar essas equipes era tarefa ingrata. Quase imbatíveis. O meu primo Hélio Conceição - que merece uma baita homenagem por sua dedicação singular ao esporte há 50 anos - formou o Misto e entrou num torneio, pegando de cara o time da Kaskol ou Katira, não me lembro qual, só sei que era uma equipe invicta até então. 
     Jogamos de igual pra igual, partida em 2 a 2 e os dois goleiros pegando quase tudo. O nosso era, salvo engano, o Charles (formou-se em Medicina e não sei onde anda). O deles era o Malah. Quase no final do jogo nosso pivô Ricardo deu um passe açucarado e eu, cara a cara, a queima-roupa, antevendo o gol, gritei, entre irônico e autosuficiente: "Pega essa, Malah!". A bola foi veloz, no alto, ia morrer no ângulo. Eu ainda saboreava o eco do tripúdio antecipado: "Pega essa, Malah!!!" E o Malah pegou. Ele foi tão rápido que, talvez antes mesmo de abrir as asas, fez um voo circunflexado na direção da bola. Na ponta dos dedos, com a envergadura do simples e do talentoso, com a baita capacidade de não render-se ao fato consumado, o Malah desviou a esfera que um segundo antes eu pensei ver chacoalhando as redes.     
       Naquele dia e naquele jogo eu passei a assegurar-me que o Malah tinha asas. 
Que ela tinha dons singulares e talentos sobrenaturais eu já desconfiava. Bem antes daquela defesa miraculosa, eu certa vez fiquei de queixo caído vendo, ou melhor, admirando o Malah em malabarismos inacreditáveis com duas baquetas nas mãos e um enorme e pesado fuzileiro atado à barriga, desfilando todo garboso e na cadência da fanfarra do Colégio Maria Leite. Foi vendo-o tocar, fascinado, que eu me atrevi a brigar por um lugar na fanfarra do Santa Tereza. Para tocar fuzileiro. Queria saber o segredo da habilidade magicamente simplista daquele negro-mulato-bugre-pantaneiro que dava cor, arte, sincronismo e rebeldia a dois pedaços de madeira rústica presos às duas mãos por barbantes.
	Quando vi o Malah tocar fuzileiro pela primeira vez, sem saber eu estava tendo minha primeira aula. Sim, porque dias depois consegui entrar fanfarra do Salesiano, arquirrival do Maria Leite. Uma semana antes do desfile de 21 de setembro, aniversário de Corumbá, quebrei o braço jogando bola. Saí do hospital 48 horas depois, engessado. Mas no dia do desfile, arranquei o gesso e fui perfilar com meus amigos de fanfarra, orgulhoso e choroso de emoção, obcecado por dois objetivos: vestir aquele inolvidável blusão dourado e preto do Salesiano, com o desenho do “S” do Paraguai e das palmeiras, e encarar de igual para igual meu mestre Malah nos irregulares paralelepípedos da Rua Frei Mariano. Diziam que eu era craque nos malabarismos. Não, não chegava a tanto. Perto do Malah eu era só um aprendiz.
	No sábado passado, dia 25 de maio de 2013, um amigo deu-me a notícia. Secamente. Poderia ter-me fantasiado o desenlace e comunicar-me que o Malah estava voando para o infinito. Mas qual – esse meu amigo seguramente não entende de voo e jamais poderia supor que um ser humano fosse capaz de voar. O voo de hoje perdeu até o circunflexo. O de ontem era acentuado porque, no grafismo das duas asas abertas, reconhecia a necessidade de sublinhar o invisível, o mágico e o genial que impulsionavam a arremetida de quem, como Augusto Alexandrino dos Santos, quando queria flanar, flanava; quando queria pousar, pousava; e quando queria decolar, decolava.
	Malah voou. Como naquela defesa que tirou a bola do ângulo. Como naquelas tranças de baquetas e cordões que nunca se enrolavam no fuzileiro. Agora lá vai, para o espaço da lembrança, nossa saudades projetada ao infinito. Segura essa, Malah!
PEGA ESSA MALAH!

(Edson Moraes)

Em 1972-73 o distribuidor de bebidas Kaskol, Reinaldo Silva, de saudosa memória, montou dois times de futebol de salão. Aliás, dois timaços, o A (Kaskol) e o B (Katira). Ele recrutou os melhores jogadores de Corumbá e Ladário para formar esses dois times. Entre outros: Luiz Mário e Edinho Rachid (imarcáveis), Chanica (Jonas de Lima), Pedro Paulo, Onílson, Jorge Brito, Dedorra e quatro excelentes goleiros, entre os quais o Malah (Augusto Alexandrino), o Pedrinho Peteca e o Ripiau.

Enfrentar essas equipes era tarefa ingrata. Quase imbatíveis. O meu primo Hélio Conceição - que merece uma baita homenagem por sua dedicação singular ao esporte há 50 anos - formou o Misto e entrou num torneio, pegando de cara o time da Kaskol ou Katira, não me lembro qual, só sei que era uma equipe invicta até então. 

Jogamos de igual pra igual, partida em 2 a 2 e os dois goleiros pegando quase tudo. O nosso era, salvo engano, o Charles (formou-se em Medicina e não sei onde anda). O deles era o Malah. Quase no final do jogo nosso pivô Ricardo deu um passe açucarado e eu, cara a cara, a queima-roupa, antevendo o gol, gritei, entre irônico e autosuficiente: "Pega essa, Malah!". A bola foi veloz, no alto, ia morrer no ângulo. Eu ainda saboreava o eco do tripúdio antecipado: "Pega essa, Malah!!!" E o Malah pegou. Ele foi tão rápido que, talvez antes mesmo de abrir as asas, fez um voo circunflexado na direção da bola. Na ponta dos dedos, com a envergadura do simples e do talentoso, com a baita capacidade de não render-se ao fato consumado, o Malah desviou a esfera que um segundo antes eu pensei ver chacoalhando as redes. 

Naquele dia e naquele jogo eu passei a assegurar-me que o Malah tinha asas. 

Que ela tinha dons singulares e talentos sobrenaturais eu já desconfiava. Bem antes daquela defesa miraculosa, eu certa vez fiquei de queixo caído vendo, ou melhor, admirando o Malah em malabarismos inacreditáveis com duas baquetas nas mãos e um enorme e pesado fuzileiro atado à barriga, desfilando todo garboso e na cadência da fanfarra do Colégio Maria Leite. Foi vendo-o tocar, fascinado, que eu me atrevi a brigar por um lugar na fanfarra do Santa Tereza. Para tocar fuzileiro. Queria saber o segredo da habilidade magicamente simplista daquele negro-mulato-bugre-pantaneiro que dava cor, arte, sincronismo e rebeldia a dois pedaços de madeira rústica presos às duas mãos por barbantes.

Quando vi o Malah tocar fuzileiro pela primeira vez, sem saber eu estava tendo minha primeira aula. Sim, porque dias depois consegui entrar fanfarra do Salesiano, arquirrival do Maria Leite. Uma semana antes do desfile de 21 de setembro, aniversário de Corumbá, quebrei o braço jogando bola. Saí do hospital 48 horas depois, engessado. Mas no dia do desfile, arranquei o gesso e fui perfilar com meus amigos de fanfarra, orgulhoso e choroso de emoção, obcecado por dois objetivos: vestir aquele inolvidável blusão dourado e preto do Salesiano, com o desenho do “S” do Paraguai e das palmeiras, e encarar de igual para igual meu mestre Malah nos irregulares paralelepípedos da Rua Frei Mariano. Diziam que eu era craque nos malabarismos. Não, não chegava a tanto. Perto do Malah eu era só um aprendiz.

No sábado passado, dia 25 de maio de 2013, um amigo deu-me a notícia. Secamente. Poderia ter-me fantasiado o desenlace e comunicar-me que o Malah estava voando para o infinito. Mas qual – esse meu amigo seguramente não entende de voo e jamais poderia supor que um ser humano fosse capaz de voar. O voo de hoje perdeu até o circunflexo. O de ontem era acentuado porque, no grafismo das duas asas abertas, reconhecia a necessidade de sublinhar o invisível, o mágico e o genial que impulsionavam a arremetida de quem, como Augusto Alexandrino dos Santos, quando queria flanar, flanava; quando queria pousar, pousava; e quando queria decolar, decolava.

Malah voou. Como naquela defesa que tirou a bola do ângulo. Como naquelas tranças de baquetas e cordões que nunca se enrolavam no fuzileiro. Agora lá vai, para o espaço da lembrança, nossa saudades projetada ao infinito. Segura essa, Malah!

Compartilhado do Facebook do Jornalista Edson Moraes pelo Advogado Ednaldo Evangelista dos Santos


Um pouco do talento do imortal Malah, em sua última fase, dominando a prancheta eletrônica (ou algo parecido), no link http://www.correiodecorumba.com.br/i.php?i=static/arquivo/1/cha_pobre_eleitor.jpg&w=160&h=100
O arquivo do Correio de Corumbá tem inúmeros trabalhos dele.
Agora, é ver para matar a saudade...

Homenagem: Réquiem para Malah, o paladino da charge pantaneira

Homenagem: Réquiem para Malah, o paladino da charge pantaneira

Data: 25/05/2013
Nas primeiras horas deste triste sábado, 25 de maio, em Campo Grande, eternizou-se o chargista e artista gráfico Augusto Alexandrino dos Santos, mais conhecido como Malah, depois de uma brava e solitária resistência a uma sucessão de agravos decorrentes do diabetes (perda quase total da visão e complicações renais). O apelido foi ganho na juventude, quando praticava o pugilismo, por causa de sua similaridade com o lendário boxeador brasileiro Malah, de quem era admirador.
Filho único de um modesto combatente da Coluna Prestes, Malah fez jus à ascendência peregrina de seus pais, residentes no humilde bairro portuário da Cervejaria, na outrora progressista Corumbá de todas as lutas e sonhos. Em tenra idade, até por razões de sobrevivência, iniciou-se talentosamente nas artes gráficas por meio do lendário pintor corumbaense Hélio Nunes, e com igual generosidade revelou e incentivou diversos talentos de diferentes gerações, tanto nas artes plásticas (como o talentoso Edson Castro, que apresentou para o imortal Jorapimo), como no cartum e na serigrafia.
Em plena juventude, fez uma breve mas marcante incursão pela radiofonia corumbaense, durante os anos de chumbo (começo da década de 1970), em que revelou seu cosmopolitismo e altivez. Isso, aliás, lhe custou muitas explicações aos órgãos da repressão política da época, pois, não bastasse sua estigmatizante ascendência de “revoltosos” da Coluna Prestes, o fato de trocar correspondência com radialistas de todos os cantos do Planeta (inclusive do bloco soviético) o desestimulou bastante. Pertenceu à talentosa geração de inesquecíveis radialistas como Gino Rondon, Edson Moraes e Juvenal Ávila, que nada deviam aos “papas” da radiofonia metropolitana do eixo Rio – São Paulo. Ainda que afastado do meio, foi um exigente cultor do jazz, do rock e da Música Popular Brasileira.
Em 1975, dá início à sua marcante passagem pelo magistério, como professor de desenho de raro talento e extraordinário trato humano. Os que, como eu, tiveram o privilégio de tê-lo como mestre no ensino médio, lhe são eternamente gratos, não apenas por desmistificar essa disciplina (que costumava castigar os alunos), mas pelas verdadeiras aulas de cidadania que recheavam o convívio com ele — sobretudo pela irreverência intrínseca à sua personalidade de revolucionário e inovador em tudo a que se dedicava, com humildade e generosidade. Decepcionado, deixou o magistério durante o derradeiro governo Pedrossian, quando se tornou um pioneiro empresário da serigrafia, tendo sido a alma da saudosa Seritex, da rua Quinze de Novembro.
Quem não se lembra do inimitável artista gráfico que generosamente emprestava o seu talento a todas as atividades da vida humana, num tempo em que não haviam os recursos tecnológicos disponíveis hoje? Além da sua incorrigível genialidade (que o tornara ainda mais generoso), ele formou gerações de profissionais vitoriosos nos mais diferentes centros urbanos da América Latina, com os quais mantinha até o último momento de sua Vida profundos laços de amizade e cumplicidade cidadã. Sou testemunha dessa magnanimidade quando, em setembro de 1991, graciosamente doou seus qualificados serviços para a reprodução de um emblemático cartaz criado a quatro mãos com o não menos genial artista plástico Rubén Darío Román Áñez, alusivo à primeira Semana da Cultura da Sociedade dos Amigos da Cultura, grito pioneiro pela preservação do patrimônio histórico e cultural de Corumbá, ao lado de queridos Amigos como a saudosa Helô Urt, o escritor Augusto César Proença, a jornalista Nicole Kubrusly, os empresários Armando Lacerda e Mário Sérgio Abreu, o tenor Lincoln Gomes e a delegada Sidneia Tobias.
Essa generosidade não se limitara à produção de layouts gráficos, mas logomarcas, programas visuais, cartuns, charges e caricaturas memoráveis, hoje perdidas pelo mundo afora, pois seu rico estúdio ficara reduzido a pequenos “ajuntamentos” de matrizes, papéis, cópias e documentos de valor histórico e sentimental extraordinário que a ganância de alguns e a mesquinhez de outros condenaram à extinção, como a sua própria história de vida, depois de ter dado literalmente a alma às cores das mais diferentes atividades culturais, desportivas, sociais e políticas de nossa cada vez mais tacanha elite decadente (na política, no carnaval, nos esportes, nas festividades, na educação, na cultura e nas atividades comerciais).
Pouquíssimas pessoas têm conhecimento, mas em seus memoráveis tempos de sucesso empresarial costumava socorrer literalmente amigos ou colegas de ofício de uma forma discreta. Diversas vezes participou de, digamos, leilões de bens arrestados por inadimplência, adquirindo a titularidade de determinados bens, mas deixando com os seus proprietários originais como se fossem fiéis depositários. Da mesma forma, já sem tantos recursos e com as limitações impostas pelo diabetes, certa vez emprestou um significativo valor a um ex-colega de magistério, sem nunca ter se esforçado em resgatá-lo, ainda que estivesse precisando adquirir medicamentos de alto custo, sobretudo para a retinoplastia que não conseguiu fazer na capital.
Como reconhecimento em Vida de tantos aportes feitos à muitas vezes ingrata gente pantaneira, tentamos trazê-lo de volta às atividades empresariais, tornando-o sócio de um empreendimento editorial para o qual ele dedicou seu inesgotável talento, mas que até o dia de sua derradeira e solitária partida ainda não dava sinais de se concretizar, e não por falta de empenho de seus pares, que, como ele, alheios aos esquemas vigentes, não conseguiram sensibilizar o establishment.
Sobreviveu a oito meses de exílio involuntário na capital do estado, onde era refém das distâncias e de sua precária saúde. Ao sair, em setembro de 2012, de Corumbá, em plena efervescência político-eleitoral, profetizava aos amigos o seu maior temor: não poder voltar a enxergar as cores da terra para a qual dedicara os melhores anos de sua existência. De fato, ele não se imaginava vivo sem poder ver literalmente o universo pantaneiro, fonte de sua talentosa Vida, até por razões de sobrevivência. Em suas agora saudosas reflexões telefônicas madrugada adentro revelava que começava a enxergar com a memória (digo eu, com a generosa alma que tinha), a despeito da injustificável dificuldade que o tornou refém em seus derradeiros anos. Se, por um lado, contava com a amizade sincera de velhos amigos, por outro lado, a insensibilidade de pessoas-chave na solução de seu problema de saúde tornara insustentável a longa espera por pequenas atitudes, bem menores que sua vontade de continuar contribuindo para a dignidade e o esplendor cultural da cada vez mais provinciana terra de Lobivar de Mattos, de Pedro de Medeiros, de Jorapimo, de Wega Nery, de Helô Urt…
Em seu último contato telefônico, se revelava feliz e esperançoso (sempre manifestando sua gratidão pelos Amigos Waldir Caldas, Maria Nely Bernal e Júlia Ojeda, entre outros), até porque a vista estava melhor, embora o inchaço das pernas o preocupasse, mas não o bastante a ponto de lhe tirar alegria de acreditar na Vida, como peregrino, como genial paladino da charge, por meio da qual enxergava o seu tempo e o mundo com o profundo olhar de caricaturista silenciado por situações adversas que jamais lhe roubaram a vontade de viver, de lutar e de sobrepor.
Até sempre, querido Amigo e Companheiro Malah, cuja memória estará sempre a nos levar avante nesta terra cada vez mais pobre de gente como Você, mas até por isso mais urgente das transformações por que nossas gerações tanto lutaram! Tenha certeza de que seus descendentes têm e terão orgulho de seu legado de dignidade, generosidade, talento e altivez, tão necessários nestes mesquinhos tempos de triunfar a qualquer preço…
Por: Ahmad Schabib Hany

Chargista e serigrafista Malah morre em Campo Grande aos 62 anos de idade

Chargista e serigrafista Malah morre em Campo Grande aos 62 anos de idade

Por: Lívia Gaertner em 26 de Maio de 2013

Augusto Alexandrino dos Santos, popularmente conhecido como "Malah", morreu no sábado, 25 de maio, aos 62 anos de idade, em Campo Grande, vítima de um infarto. Ele estava na Capital há cerca de um ano fazendo tratamento de problemas oculares, que se agravaram com o quadro de diabetes.
Correio de Corumbá

Malah estava morando há cerca de um ano em Campo Grande onde fazia tratamento de saúde
Corumbaense, ele se tornou bastante popular por seu trabalho em diversas áreas, que se iniciou como educador em escolas estaduais da cidade como "Maria Leite", Julia Gonçalves Passarinho (JGP) e Dom Bosco. Segundo informações do jornalista Adolfo Rondon, Malah foi "mestre em serigrafia, pinturas para publicidade em painéis ou outdoors, sendo por muito tempo requisitado por partidos e candidatos para executar seus trabalhos, inclusive na confecção de camisetas personalizadas, assim como também por entidades carnavalescas, entidades esportivas e colégios de nossa região".
Em 1973, entrou para a área de comunicação com a aprovação em um teste para radialista na Rádio Clube de Corumbá. Na área esportiva, ele se destacou no futsal, inclusive como goleiro do time da Kaskol; além de lutador de box e praticante de halterofilismo.
Segundo Rondon, "nos últimos anos, Malah desenvolveu seus serviços na área de informática, inclusive tendo dado sua contribuição a sites de notícias, dentre eles, o Cidade Branca do comunicador Chicão de Barros, sendo também colaborador do site e semanário Correio de Corumbá, com suas apreciadas charges sempre publicadas na capa do jornal, satirizando os polêmicos políticos de nossa região e outras figuras que costumam aprontar".

(Publicado no Diário On Line, no link www.diarionline.com.br)

Malah, ex-professor, radialista, serigrafo, desportista e chargista, morre em Campo Grande

Malah, ex-professor, radialista, serigrafo, desportista e chargista, morre em Campo Grande

Fonte: Adolfo Rondon em 25 de Maio de 2013
É com profundo pesar que registramos o falecimento do benquisto cidadão Augusto Alexandrino dos Santos, que era carinhosamente chamado por Malah, ocorrido hoje, sábado, dia 25 de maio, aos 62 anos, completados no dia 17 de março do corrente ano. Era natural de Corumbá, mas desde setembro do ano passado estava em Campo Grande fazendo tratamento da vista, já que, devido ao diabetes, enxergava muito pouco. Devido à insônia, dormia muito tarde e acordava por volta das 11 horas da manhã nessa fase de tratamento. Como não levantou no horário de costume, seu filho, ao chegar em casa para o almoço, bateu no seu quarto, o chamando por várias vezes, sem obter resposta. Ato contínuo, conseguiu abrir a porta do aposento e já encontrou seu pai caído morto no chão, vítima de infarto fulminante, segundo as primeiras informações que recebemos.

Malah, como era conhecido por todos, tem o seu nome gravado na história de nossa cidade, pelos trabalhos realizados ao longo de sua existência, tendo sido décadas atrás educador de tradicionais estabelecimentos de ensino, como por exemplo, Escola Estadual "Maria Leite", Escola Estadual Julia Gonçalves Passarinho(JGP) e Dom Bosco, inclusive tendo sido professor do então garoto Alcides Bernal, que é corumbaense, sendo hoje prefeito da Capital do Estado.

Mais tarde Augusto Alexandrino resolveu exercer outras profissões como de mestre em Serigrafia, pinturas para publicidade, inclusive de painéis ou outdoors, sendo por muito tempo requisitado por partidos e candidatos para executar seus trabalhos, inclusive na confecção de camisetas personalizadas, assim como também por entidades carnavalescas, entidades esportivas e colégios de nossa região. Seu grande inspirador em Serigrafia foi o saudoso mestre de pinturas e artes Hélio Nunes Pereira.

Malah em 1973 decidiu se tornar também um comunicador da imprensa falada de nossa cidade, tendo para tanto, participado de um rigoroso teste realizado pela Rádio Clube de Corumbá ainda na sua sede antiga na sobreloja do Cine Anache, sob a direção do Dr. Fauze Anache, tendo enfrentado uma extensa fila de candidatos a locutor, formada na então gloriosa rua Delamare. Após os testes, foram aprovados apenas quatro, entre eles, o Jonas de Lima, hoje diretor e sócio-proprietário da Rádio Fronteira AM aqui de Corumbá, ex-presidente da Câmara de Vereadores, ex-presidente da Funec e ex-Assessor de Comunicação Institucional da Prefeitura de Corumbá; Augusto Alexandrino(Malah) e Gino Rondon, radialista, jornalista, cerimonialista, ex-Secretário de Imprensa da Prefeitura de Rondonópolis (MT) e que nos últimos anos é professor de cursos de Oratória, atualmente residindo em Cuiabá, mas que a partir de julho vindouro estará fixando residência em Campo Grande (MS).

Nos últimos anos Malah desenvolveu seus serviços na área de informática, inclusive tendo dado sua contribuição a sites de notícias, entre eles, o Cidade Branca do comunicador Chicão de Barros, sendo também um assíduo colaborador do site e semanário Correio de Corumbá, com suas apreciadas charges sempre publicadas na capa do jornal, satirizando os polêmicos políticos de nossa região e outras figuras que costumam aprontar.
Deixa vasto círculo de amigos, sendo que nos últimos anos conviveu muito com Luizinho, outro grande chargista de nossa região; era muito considerado pelo nosso diretor Farid Yunes; Alle Yunes, Reginaldo Coutinho, Chicão de Barros, pelo Nelson Fernandes, proprietário do Salão Imperial na Galeria Pantanal, o popular "Nelsão do Banco da Praça", que tinha Malah como assíduo frequentador, e tantos outros amigos professores, comunicadores, homens públicos e gente do povo. Merece ser homenageado. 

À família enlutada, nossos sinceros sentimentos, e à alma de Augusto Alexandrino dos Santos, muita luz e paz no Reino do Senhor. Vá com Deus inesquecível amigo.

Publicado no Correio de Corumbá em 25 de maio de 2013, no link www.correiodecorumba.com.br

RÉQUIEM PARA MALAH, O PALADINO DA CHARGE PANTANEIRA

RÉQUIEM PARA MALAH, O PALADINO DA CHARGE PANTANEIRA
Nas primeiras horas deste triste sábado, 25 de maio, em Campo Grande, eternizou-se o chargista e artista gráfico Augusto Alexandrino dos Santos, mais conhecido como Malah, depois de uma brava e solitária resistência a uma sucessão de agravos decorrentes do diabetes (perda quase total da visão e complicações renais). O apelido foi ganho na juventude, quando praticava o pugilismo, por causa de sua similaridade com o lendário boxeador brasileiro Malah, de quem era admirador.
Filho único de um modesto combatente da Coluna Prestes, Malah fez jus à ascendência peregrina de seus pais, residentes no humilde bairro portuário da Cervejaria, na outrora progressista Corumbá de todas as lutas e sonhos. Em tenra idade, até por razões de sobrevivência, iniciou-se talentosamente nas artes gráficas por meio do lendário pintor corumbaense Hélio Nunes, e com igual generosidade revelou e incentivou diversos talentos de diferentes gerações, tanto nas artes plásticas (como o talentoso Edson Castro, que apresentou para o imortal Jorapimo), como no cartum e na serigrafia.
Em plena juventude, fez uma breve mas marcante incursão pela radiofonia corumbaense, durante os anos de chumbo (começo da década de 1970), em que revelou seu cosmopolitismo e altivez. Isso, aliás, lhe custou muitas explicações aos órgãos da repressão política da época, pois, não bastasse sua estigmatizante ascendência de "revoltosos" da Coluna Prestes, o fato de trocar correspondência com radialistas de todos os cantos do Planeta (inclusive do bloco soviético) o desestimulou bastante. Pertenceu à talentosa geração de inesquecíveis radialistas como Gino Rondon, Edson Moraes e Juvenal Ávila, que nada deviam aos "papas" da radiofonia metropolitana do eixo Rio - São Paulo. Ainda que afastado do meio, foi um exigente cultor do jazz, do rock e da Música Popular Brasileira.
Em 1975, dá início à sua marcante passagem pelo magistério, como professor de desenho de raro talento e extraordinário trato humano. Os que, como eu, tiveram o privilégio de tê-lo como mestre no ensino médio, lhe são eternamente gratos, não apenas por desmistificar essa disciplina (que costumava castigar os alunos), mas pelas verdadeiras aulas de cidadania que recheavam o convívio com ele -- sobretudo pela irreverência intrínseca à sua personalidade de revolucionário e inovador em tudo a que se dedicava, com humildade e generosidade. Decepcionado, deixou o magistério durante o derradeiro governo Pedrossian, quando se tornou um pioneiro empresário da serigrafia, tendo sido a alma da saudosa Seritex, da rua Quinze de Novembro.
Quem não se lembra do inimitável artista gráfico que generosamente emprestava o seu talento a todas as atividades da vida humana, num tempo em que não haviam os recursos tecnológicos disponíveis hoje? Além da sua incorrigível genialidade (que o tornara ainda mais generoso), ele formou gerações de profissionais vitoriosos nos mais diferentes centros urbanos da América Latina, com os quais mantinha até o último momento de sua Vida profundos laços de amizade e cumplicidade cidadã. Sou testemunha dessa magnanimidade quando, em setembro de 1991, graciosamente doou seus qualificados serviços para a reprodução de um emblemático cartaz criado a quatro mãos com o não menos genial artista plástico Rubén Darío Román Áñez, alusivo à primeira Semana da Cultura da Sociedade dos Amigos da Cultura, grito pioneiro pela preservação do patrimônio histórico e cultural de Corumbá, ao lado de queridos Amigos como a saudosa Helô Urt, o escritor Augusto César Proença, a jornalista Nicole Kubrusly, os empresários Armando Lacerda e Mário Sérgio Abreu, o tenor Lincoln Gomes e a delegada Sidneia Tobias.
Essa generosidade não se limitara à produção de layouts gráficos, mas logomarcas, programas visuais, cartuns, charges e caricaturas memoráveis, hoje perdidas pelo mundo afora, pois seu rico estúdio ficara reduzido a pequenos "ajuntamentos" de matrizes, papéis, cópias e documentos de valor histórico e sentimental extraordinário que a ganância de alguns e a mesquinhez de outros condenaram à extinção, como a sua própria história de vida, depois de ter dado literalmente a alma às cores das mais diferentes atividades culturais, desportivas, sociais e políticas de nossa cada vez mais tacanha elite decadente (na política, no carnaval, nos esportes, nas festividades, na educação, na cultura e nas atividades comerciais).
Pouquíssimas pessoas têm conhecimento, mas em seus memoráveis tempos de sucesso empresarial costumava socorrer literalmente amigos ou colegas de ofício de uma forma discreta. Diversas vezes participou de, digamos, leilões de bens arrestados por inadimplência, adquirindo a titularidade de determinados bens, mas deixando com os seus proprietários originais como se fossem fiéis depositários. Da mesma forma, já sem tantos recursos e com as limitações impostas pelo diabetes, certa vez emprestou um significativo valor a um ex-colega de magistério, sem nunca ter se esforçado em resgatá-lo, ainda que estivesse precisando adquirir medicamentos de alto custo, sobretudo para a retinoplastia que não conseguiu fazer na capital.
Como reconhecimento em Vida de tantos aportes feitos à muitas vezes ingrata gente pantaneira, tentamos trazê-lo de volta às atividades empresariais, tornando-o sócio de um empreendimento editorial para o qual ele dedicou seu inesgotável talento, mas que até o dia de sua derradeira e solitária partida ainda não dava sinais de se concretizar, e não por falta de empenho de seus pares, que, como ele, alheios aos esquemas vigentes, não conseguiram sensibilizar o establishment.
Sobreviveu a oito meses de exílio involuntário na capital do estado, onde era refém das distâncias e de sua precária saúde. Ao sair, em setembro de 2012, de Corumbá, em plena efervescência político-eleitoral, profetizava aos amigos o seu maior temor: não poder voltar a enxergar as cores da terra para a qual dedicara os melhores anos de sua existência. De fato, ele não se imaginava vivo sem poder ver literalmente o universo pantaneiro, fonte de sua talentosa Vida, até por razões de sobrevivência. Em suas agora saudosas reflexões telefônicas madrugada adentro revelava que começava a enxergar com a memória (digo eu, com a generosa alma que tinha), a despeito da injustificável dificuldade que o tornou refém em seus derradeiros anos. Se, por um lado, contava com a amizade sincera de velhos amigos, por outro lado, a insensibilidade de pessoas-chave na solução de seu problema de saúde tornara insustentável a longa espera por pequenas atitudes, bem menores que sua vontade de continuar contribuindo para a dignidade e o esplendor cultural da cada vez mais provinciana terra de Lobivar de Mattos, de Pedro de Medeiros, de Jorapimo, de Wega Nery, de Helô Urt...
Em seu último contato telefônico, se revelava feliz e esperançoso (sempre manifestando sua gratidão pelos Amigos Waldir Caldas, Maria Nely Bernal e Júlia Ojeda, entre outros), até porque a vista estava melhor, embora o inchaço das pernas o preocupasse, mas não o bastante a ponto de lhe tirar alegria de acreditar na Vida, como peregrino, como genial paladino da charge, por meio da qual enxergava o seu tempo e o mundo com o profundo olhar de caricaturista silenciado por situações adversas que jamais lhe roubaram a vontade de viver, de lutar e de sobrepor.
Até sempre, querido Amigo e Companheiro Malah, cuja memória estará sempre a nos levar avante nesta terra cada vez mais pobre de gente como Você, mas até por isso mais urgente das transformações por que nossas gerações tanto lutaram! Tenha certeza de que seus descendentes têm e terão orgulho de seu legado de dignidade, generosidade, talento e altivez, tão necessários nestes mesquinhos tempos de triunfar a qualquer preço...
Schabib Hany